quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mulheres já bebem mais que os homens

As mulheres estão bebendo cada vez mais e não deixam nada a dever aos homens em matéria de embriaguez.

Segundo pesquisas desenvolvidas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), os casos de alcoolismo entre as adolescentes, principalmente universitárias, estão ficando tão numerosos quanto entre os garotos. A mudança no comportamento feminino é a principal causa da novidade na média do consumo de álcool - dois rapazes para uma garota. Nos anos 80, essa relação era de cinco garotos para cada menina. Segundo Florence Kerr Côrrea, professora da disciplina de psiquiatria do campus de Botucatu e pesquisadora, o grupo das universitárias está adotando os hábitos masculinos, como bebedeiras em bares e festas. “A independência que as mulheres conquistaram veio junto com mudanças de atitude. No caso das universitárias, o ambiente na faculdade é favorável ao consumo de álcool. Como os estudantes saem em grupos para festas, o consumo da bebida é livre, pois não existe pressão social, como da família, entre eles”, explica Florence. A psiquiatra do departamento de neurologia da Unesp de Botucatu, Sumaia Inaty Smaira, alerta para os riscos do consumo de álcool no organismo das mulheres.

Por causa da diferença de distribuição de gordura no corpo feminino e da menor quantidade de água, a mulher acaba se embriagando mais rápido do que o homem, mesmo ingerindo a mesma quantidade de bebida. Além disso, os fatores de risco são maiores para as garotas, que têm mais complicações na saúde em menos tempo. O risco está nas conseqüências provocadas pelo álcool - as doenças clínicas e psiquiátricas na fase adulta. Complicações, como problemas no fígado e pâncreas, cãibras nas pernas, alterações vasculares e cardíacas, irão afetar o nível da qualidade de vida das mulheres no futuro. A bebida também ocasiona problemas que poderão interferir nas relações pessoais e profissionais.

Acidentes
As universitárias estão acima da média de bebidas consumidas por garotas que convivem em outros ambientes. Pesquisas recentes realizadas nas universidades estaduais do Estado de São Paulo mostram que as estudantes se envolvem na mesma proporção de acidentes de carro que os meninos quando estão alcoolizadas. São três universitárias acidentadas para cinco garotos. No Brasil, as mortes decorrentes da conseqüência dos efeitos do álcool são menores do que as ocorridas no trânsito por causa de embriaguez. Devido a campanhas preventivas dentro da universidade, o número de acidentes de carro diminuiu, principalmente em relação aos meninos - de 15% para 7% -, mas entre as garotas, houve uma queda de apenas 2%, de 10% para 8%. “O problema maior está no exagero. No caso dos estudantes, um quarto deles consome álcool em excesso e rápido demais. É preciso beber com moderação e evitar sair ao volante em estado de embriaguez. Além disso, optar por bebidas mais fracas, como cerveja, ao invés de uísque, ajuda a prevenir acidentes tanto de trânsito quanto a evitar problemas futuros”, alerta.

Deputado realiza trabalho
O deputado estadual Valdomiro Lopes, (PSB), de Rio Preto, realiza um trabalho de combate ao alcoolismo por meio de palestras em escolas e entidades para conscientizar os jovens sobre a dependência química. “O álcool é uma droga que pode desenvolver dependência física e psicológica.” A frase refere-se ao projeto do deputado que visa a criar uma campanha publicitária veiculada pelo Estado, obrigando as propagandas de bebidas a colocá-la nos rótulos de garrafas e nos comerciais de televisão, assim como aconteceu com as advertências de que o cigarro faz mal à saúde. “O álcool é a primeira droga com a qual o adolescente entra em contato. A propaganda desenfreada, principalmente na televisão, é a responsável pelo alto consumo de bebidas entre os jovens. Elas nunca mostram pessoas bêbadas, em estado deplorável, caídas em uma sarjeta de tão embriagadas. Pelo contrário.

Colocam a cerveja, por exemplo, como algo comum na vida adulta. A bebida sempre aparece associada a mulheres com corpos perfeitos, a rapazes malhados, criando uma realidade que não existe no dia-a-dia de quem é viciado”, explica. Segundo Valdomiro, a falta de perspectiva e de esperança na adolescência levam o jovem a viver intensamente, sem pensar nas conseqüências do comportamento. “Quem tem propensão para se tornar alcoólatra pode passar rapidamente a consumir bebidas de maneira compulsiva. Essa dependência deve ser mostrada para os jovens, que estão propensos a experimentar novas emoções. Como a juventude se deixa levar por falsas propagandas, é preciso mostrar aos adolescentes a verdadeira realidade do álcool”, alerta.

Alunos falam sobre motivos
A estudante do 3º ano de editoração Naiara Raggiotti acredita que as garotas estão bebendo mais por causa de liberação de comportamento. “Antes, uma garota que se sentava em um bar para beber, dependendo da cidade, poderia ficar mal falada, porque pegava mal. Como isso não existe mais, as meninas passaram a sair para bares tanto com homens como sozinhas. Na faculdade, isso é comum e freqüente. O pessoal costuma sair para beber, e quando tem uma festa, a bebedeira é geral. Não existe mais essa de que bebida é só para homem”, acredita. Já a estudante do 4º ano de arquitetura Cintia Villalba acredita que as universitárias saem em grupos para beber para criar coragem para paquerar os garotos. “Tenho amigas que não têm namorado e estão à procura de alguém especial e, por isso, freqüentam bares e festas e abusam da cerveja para se soltar mais na paquera. Mas isso é passageiro, apenas uma fase que não trará nenhum tipo de problema no futuro, como o alcoolismo”, diz. Na opinião do estudante do 2º ano de jornalismo Adriano Faustino, as universitárias bebem para se igualar aos garotos. “As meninas querem ter os mesmos direitos e não ficar para trás quando forem comparadas aos homens”, afirma.

Projeto busca tratamento
Para reverter o quadro de consumo de bebidas alcoólicas e de drogas entre os universitários, o Conselho de Vice-diretores da Unesp (Convidunesp) criou o projeto “Viver Bem” para obter um diagnóstico real sobre o assunto e tratá-lo de maneira profissional e técnica. Segundo Florence Kerr Côrrea, responsável pelo projeto, o consumo exagerado de álcool em determinados casos é o responsável por acidentes de carro, casos de violência (como brigas em bares) e diminuição do rendimento escolar, ocasionando uma perda na qualidade de vida do aluno. A proposta do projeto seria ensinar aos graduandos a beber de maneira não-prejudicial. “O projeto visa a conscientizar os estudantes sobre o problema do consumo exagerado do álcool. A solução não seria proibir e nem recriminá-los, mas sim alertá-los para os riscos que correm ao beber sem moderação. A maioria deles não consegue enxergar o problema da dependência alcoólica e as suas conseqüências no dia-a-dia”, alerta.

Para obter dados concretos, os pesquisadores elaboraram um questionário com 161 questões, baseado em uma proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS), para detectar o uso precoce de álcool e drogas.

As drogas legais, como cigarro e álcool, são freqüentes na vida dos acadêmicos. No total, 74,4% dos estudantes admitiram consumir bebidas alcóolicas, sendo que 30% vão a bares mais de uma vez por semana. Segundo pesquisas norte-americanas sobre tendências no uso abusivo do álcool, são mais viáveis projetos que visam a modificar o comportamento, com propostas de conscientização, do que medidas que impõem a proibição. A proposta do projeto “Viver Bem” também segue essa linha de pensamento. Para colocar o projeto em prática, a Unesp adotou um programa de prevenção no primeiro ano das faculdades de cada um de seus campi para alertar e conscientizar os estudantes sobre o consumo exagerado de álcool, além de informá-los sobre o risco das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e da gravidez indesejada.

Jovens ´dispensam´ ajuda
As entidades voluntárias desempenham papel importante na recuperação de dependentes químicos. Em Rio Preto, a Associação de Reabilitação e Prevenção do Alcoolismo Santo Antônio desenvolve um trabalho de prevenção por meio de palestras em escolas, além da distribuição de folhetos educativos. Segundo Francisco Pereira Neto, presidente da entidade, o alcoolismo é considerada uma doença e deve ser tratada. “Na associação, o número de jovens é inexpressivo, porque as conseqüências da bebida irão aparecer somente na vida adulta. A maioria dos adolescentes geralmente vem para a entidade porque cometeu algum tipo de delito, e não por vontade própria.” Ex-alcoólatra há 10 anos, Francisco usa a sua experiência para alertar os jovens dos riscos e prejuízos que o vício causa na vida das pessoas. “Sempre repito nas palestras que na minha fase de dependência crônica cheguei a levantar às 5 horas para tomar pinga. No almoço, já estava bêbado.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário